Em 2012 eu venci uma das doenças mais temidas do mundo. Olhando para trás, um filme com vários enredos e personagens passa em nossa cabeça numa fração de segundos. Do momento da suspeita à última dose de quimioterapia. Do primeiro enjôo à glória do tratamento de manutenção. Do primeiro amigo que se foi ao que está do seu lado, agora, curado. Do primeiro fio de cabelo que caiu ao primeiro que nasceu. Quem passou ou passa por um drama pessoal desse consegue vislumbrar a vida de uma maneira muito diferente. Tudo e todos ganham formas especiais e cada batida do coração não é somente uma batida do coração. É vida!
Nesse ano, experimentei todo tipo de sentimento: revolta, medo, angústia, alegria, conformação, dever cumprido. Tudo isso junto e misturado e, se há 1% de chance, isso já é suficiente. Estatísticas caem por terra quando o grande alvo é você. Números só existem para os outros... jamais vou esquecer as palavras abençoadas de Petrilli: para você é 100%! E já que falei dele, não posso deixar de comentar que anjos também torcem para o Corinthians e têm olhos azuis.
Durante muitos momentos, perguntei o motivo de estar doente mais uma vez. No entanto, para muitas perguntas, as respostas só vieram algum tempo depois, quando descobri que se é possível ser feliz mesmo com o diagnóstico de um câncer. Não fui a primeira nem vou ser a última a viver assim. Perdi período na faculdade, atrasei minha formatura, ficarei mais um semestre na vida acadêmica, mas, no quesito vida, me tornei doutora muito antes de alguns dos meus professores, que se formaram médicos apenas convivendo com os livros. Medicina, definitivamente, não é isso.
Quando eu soube que estava com metástases múltiplas de um tumor ósseo, imaginei que minha vida estava acabando ali no consultório médico, diante daqueles que têm a missão de nos salvar. Me enganei... O medo da morte ilumina a vida, meus amigos. Pode parecer loucura, mas o que eu aprendi numa sala de quimioterapia talvez jamais aprenderia numa sala de sala... Respeito, força, coragem, determinação, alegria: ingredientes que me fizeram acreditar que nada é impossível.
Lutei, lutei muito, muito mesmo para estar aqui hoje. Sofri, chorei, desesperei, mas no dia que acaba, todo esse sofrimento também fica no passado... E nada foi em vão. E nada jamais será em vão quando passamos a reconhecer o grande mistério da existência. Coisas pequenas devem ser sempre coisas pequenas. E as grandes, grandes! Uma vida é o que há de mais rico. Um ser humano é o que há de mais original. Surgem e nos atropelam tantas vidas, tantas pessoas para sempre inacessíveis, desperdiçadas em seu talento, em seu potencial transformador, em sua capacidade de nos emocionar. A esmagadora maioria delas passa e não fica. São flashes do olhar. Agarremo-nos, pois, às que ficam, permanecem, são reconhecíveis pelo nome e pelo trajeto percorrido em nós. Aproveitemos o material humano de que dispomos: família, amigos e amores. Escassos, raros e profundamente necessários.
Que 2013 seja feito de saúde e paz.
Bjo, bjo, bjo.