terça-feira, 30 de julho de 2013

Moda quimioterapia

Nenhum outro sintoma é tão associado à quimioterapia quanto a queda dos cabelos. Talvez seja o mais temido e o que mais causa ansiedade, depressão e isolamento social. Já disse aqui no blog que não tive grandes problemas com o suicídio coletivo dos meus amados e longos fios de cabelo. Não vou ser hipócrita e falar que nem me importei com a situação, porém diante de tantas outras perdas é preciso se reinventar para enfrentar o tratamento de um câncer. Muitos vão dizer que isso é o "de menos", que cabelo cresce, que blá blá blá blá blá... mas se cabelo realmente não importasse a indústria de cosméticos capilares não estava aí bombando! Então...
Pois bem, usei, abusei, usei mais um pouco e abusei ainda mais de tudo que eu tinha direito para driblar a falta dos cabelos durante a quimioterapia. Não só por questão de beleza, mas também de proteção. No verão, o sol te castiga e no inverno você congela sua humilde e lisa cabecinha.
Vamos lá... a cada troca de acessório, um flash:

Lenços
Acessórios quase obrigatórios no armário da mulherada. De todas as cores, tamanhos, estilos... é impressionante o tanto de lenço que você junta nessa época. E os presentes? Só dá lenço, lenço, lenço... hahaha! Saiu na rua e viu um praticamente igual aos milhares que já tem, lá vai mais um para a sua coleção... 




Turbantes
Já repararam quantas famosas aderiram à essa moda? Ideal para um tique diferente na produção. Acho lindo, prático e style...


Boinas
Usei muuuito. Concordo que é um acessório nem sempre fácil de usar, mas no nosso caso, como ele cai bem... 




Chapéu de pêlo
Salvação no inverno rigoroso e, de quebra, aquela "ar inglês"... hahaha!


Chapéu 
Queridinho de muitas mulheres, com ou sem cabelo. E vamos combinar: é muito lindo, não? Já gostava de usar chapéu antes do tratamento... depois então...




Peruca
Usei pouco, mas me diverti ao ser questionada por estranhos: "nossa, que cabelo lindo"... hahahaha! Esquenta, incomoda, mas quem não ama a sensação daquela imagem que até pouco tempo lhe parecia tão familiar? 





Demos férias aos nossos cabeleireiros, mas às conversas de salão não! Careca, de peruca, lenço ou boné... você continua sendo mulher.

Bjo, bjo, bjo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Um ano de remissão

A notícia que pesava uma tonelada veio numa manhã de terça-feira, em um telefonema que escondia todo o meu futuro e o da minha família. Daquele dia em diante, os medos insuportáveis se transformaram em coragens arrebatadoras. Eu tinha uma vida inteira pela frente e o diagnóstico da recidiva de um câncer só me deu uma opção: ser corajosa. Então me vesti com as roupas e as armas de Jorge. Quem acorda em um hospital sabe que o relógio ali é regido por outro fuso. O mundo branco é isolado por muros de desejos diferentes. Um sonho de padaria tem um gosto capaz de te transportar para uma cafeteria de Paris. Um aperto de mão confiante de um enfermeiro é tão valioso quanto o resultado de um aguardado exame. Ali eu era paciente. Em todos os sentidos. Posso ter doado meus braços, meus cabelos, minha faculdade, mas a vitória é de todos que me amam. A força, de todos. A sintonia, de todos. O mistério, de todos. Venci minha missão com a bravura da mulher maravilha e ganhei o super poder de olhar a vida em outros dimensões. Fiz promessas, projetei vontades e fechei acordo comigo mesmo. Do lado de fora, não sei bem o nome do que eu, meu pai, minha mãe, irmãos e amigos fizeram, mas foi intenso. Olhares que diziam mais do que discursos inteiros. Mas tudo foi um momento ímpar de aprendizado. Quem foi que disse que só crescemos nas alegrias? Exatamente hoje completo 365 dias de remissão. Um ano se passou e tudo está ficando como uma lembrança cicatrizada. Não fossem as circunstâncias da vida e suas coincidências mágicas, talvez não estivesse aqui escrevendo. Ontem fui apresentada a uma outra garota, com história parecidíssima com a minha... ela estava vivendo a angústia da primeira quimioterapia e da queda iminente do cabelo que é sua marca registrada. E agora, lembrando essa menina, me pergunto: por que tanta alegria depois dessa tempestade louca? É preciso atravessar esse tsunami para que a gente chegue ao outro lado do rio com esse sabor de vida ganha? Nunca procurei entender o verdadeiro sentido da vida. Tem gente que já nasce sabendo o que vai ser quando crescer. Tem gente que já nasce e encontra caminhos perigosos. Tem gente que tenta desviar mas é destinado a passar por provações. Prefiro pensar que somos pessoas de sorte. Que tiveram suas histórias grifadas com caneta marca texto, lá do alto das nuvens, pra refletirem um pouco de magia para quem quiser assistir. Talvez por medo, talvez por fatores aleatórios, fomos escolhidos. E hoje só posso agradecer. Por ter tido a imensa honra de nascer na família que mais me encheu de orgulho. Naquela que mexe com meus mais profundos sentimentos... que me faz lembrar que depois da guerra, há flores. Aquela notícia surpreendente podia ter nos levado ao coma generalizado. Mas nos fez voar de paraquedas. Ver a vida de lá do alto. Repensar problemas. Desistir de bobagens. Ignorar o indiferente. Ser feliz já não é uma questão de escolha. É obrigação.


Bjo, bjo, bjo.