domingo, 22 de setembro de 2013

Virada de Estágio

Momento mágico, aguardado desde o primeiro período e não esquecido até mesmo depois da formatura. Virada de estágio: uns se despedem do estágio de Cirurgia e outros dão adeus à Ginecologia e Obstetrícia. E quantas emoções por trás disso tudo. 
Há exatamente 1 ano, quando minha ex-turma virava estágio, a minha virada parecia tão longe. Gente... mas como o tempo está passando rápido. E é por isso que digo que devemos procurar viver o dia de hoje como o único de nossas vidas... 
Turma 55 Medicina Unimontes, minha querida sala, que me acolheu tão bem e me trouxe momentos tão incríveis, obrigada!






Da série: Viva la Vida!
Bjo, bjo, bjo.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os meus, os seus, os nossos sofrimentos

Helena está inconsolável depois de terminar um namoro de anos com a pessoa a qual dedicou tempo, vida e amor. Júlia sofre porque não consegue por fim a um relacionamento que a faz sofrer. Amália está depressiva porque seu marido pediu o divórcio. Sara quer ser amada. Roberta acredita em almas gêmeas.
Uma garota entra no salão desesperada, pois sua unha quebrou. Outra moça está arrasada com as pontas duplas dos seus cabelos. Uma terceira jovem não sabe se faz escova marroquina, de aminoácidos, de morango, de cristal ou de chocolate. Muitas outras mulheres se dividem para escolher a cor e o corte de seus cabelos. Houve um tempo em que um par de cílios tímidos fazia minha alegria.  E hoje muitas das minhas amigas dariam tudo para viver esses momentos fúteis no salão de beleza.
Meu vizinho reclama que sua esposa engordou, mas esquece de olhar para sua própria barriga. Outro reclama da dor nas costas e nos joelhos depois do futebol. Quinta é dia deles estarem empolgados ou irritados por causa do resultado de quarta no brasileirão. Mas agora eu conheço pessoas que sonham em não sofrer mais com os resultados de seus exames de sangue, da tomografia, do pet scan, da consciência.
Cecília reclama do seu vôo atrasado, pois assim perderá alguns minutos de seu passeio em Paris. Luciana acha o fim do mundo sair de casa no meio da semana para visitar sua mãe no outro lado da cidade. Outras reclamam que o trabalho tem lhes tirado a beleza, o tempo, a vitalidade. Mas agora eu conheço pessoas que não passeiam até a esquina para não ficarem doentes devido a sua baixa imunidade... outras perderam sua mãe para doenças terríveis. E muita, muita gente viaja horas infindáveis para ir à consulta ou fazer quimioterapia. E depois pega o caminho de volta com a mesma força de vontade da ida.
Mariah não sabe mais o que fazer com o filho, que corre o tempo todo, pula, rabisca suas paredes cor de gelo... já pensou em até chamar a Super Nani para ele. Camila recusa o abraço do caçula que voltou da escolinha sujo de terra depois de brincar com os amigos. Zilá não sabe como sustentar os 4 filhos depois de ter sido abandonada pelo marido. Renata sonha em ser mãe. Marinalva só queria dar um abraço no filho que o câncer levou. Carolina quer que seu primogênito levante da cama e lhe dê um beijo.
Muitas vezes eu reclamei que o câncer levou meus cabelos, um ano da minha faculdade, o contato com alguns amigos, mas me esqueço das pessoas que perderam a visão, uma perna, a dignidade, a vida...
Li um depoimento esdrúxulo esses dias. Uma mulher zureta porque o médico não indicou quimio nem radioterapia, só "uma porcaria de medicamentos". Ou não confia no profissional ou precisa urgente de um psiquiatra. Quem, nessa vida, sonha em fazer quimioterapia? Menos, por favor. Também escutei uma pessoa reclamar do marido. Depois que ela terminou o tratamento, ele vive para fazer planos de viagens em família, mas a infeliz só quer se trancar no quarto e chorar. Mal sabe ela quantas mulheres foram completamente humilhadas por seus companheiros depois do câncer, quantas não poderão mais ter filhos, quantas não tiveram a chance de tratamento. Sim, posso até estar errada porque cada um tem sua vida e suas paranóias, mas tem coisa que não desce pela garganta. Para muitos, uma unha encravada é motivo de dor; outros não têm pés. O que para mim é nada, para outro pode ser tudo e vice-versa.
Quem vive ou já viveu no limite da vida tem uma chance a mais de aprender a valorizar os pequenos prazeres: tirar a sobrancelha, fazer espuminha quando vai lavar o cabelo-kiwi, poder comer o que quiser e não sentir enjôo, ir bater perna na rua, ficar uma semana sem levar furadas... marcar compromisso em Dezembro, quando ainda é Maio. Ir para a aula, tomar sorvete sem medo de pegar resfriado, ficar em casa curtindo preguiça porque quer e não por necessidade, assistir novela e futebol com os amigos, dar seu pitaco, não ser vista como a pobre coitada doente e com os dias contados. E quantas outras fontes de alegria vão preenchendo a vida, assim, em conta gota, para ser saboreada vagarosamente. Mas verdade seja dita: é mesmo necessário passar pelo limbo para se chegar ao céu? É de fato preciso andar pelo caminho das pedras para alcançar o paraíso? Acho que não. Sorte de quem é poupado da treva e mesmo assim sabe viver bem. 
Na medida do possível, dê um toque na pessoa sem noção, no "reclamão" da vez, naquele que tem tudo e acha que não tem nada. E se o sem noção é você, saia do espelho, não sofra tanto por coisas banais, fúteis, corriqueiras, indignas. Até que se prove o contrário, temos só essa vida e ela, acredite, é bem curta... não espere ficar no despenhadeiro para dar valor ao dia de hoje.
Os meus, os seus, os nossos problemas podem não ser os mesmos, não ter igual intensidade nem solução, mas que tal ser exemplo de coragem em vez de o "chatinho" da turma?


Uma semana abençoada a todos nós. Minhas energias a todos os meus amigos que passarão por cirurgias, que estão sofrendo com o tratamento e com exames, com o cabelo que está caindo ou que não está nascendo, com os leucócitos que tiraram férias... Enfim, essas coisas que conhecemos bem.
Bjo, bjo, bjo.

Overdose de mim

Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não viria com um simples copo de coca-cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clássicos do mal-estar, e sim excesso de mim. 
Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mesmo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite, no único relacionamento que é verdadeiramente pra sempre.
Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos, cujas canções possuem letras divertidas e sarcásticas, entre elas, "Me amo", uma crítica bem-humorada a essa era narcisista que estamos vivendo. O personagem da música não ouve ninguém e não consegue imaginar como seria o mundo sem sua presença. Tem muitas garotas, porém nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós. "Soy mi pareja perfecta".
Intoxicação talvez seja isso: considerarmos que somos um par. Só que no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fujir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinha e outro eu que precisa amar. Nada de pareja perfecta e sim caótica.
Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. Perdemos muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente para o espelho e de costas para o mundo.
É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas como toda relação essa também se desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa no singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu.


Sem mais delongas.
Bjo, bjo, bjo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Divina Graça

Semana de consulta médica deveria ser chamada de semana da tensão (faço essa proposta). Desafio aqui alguém que consegue ir tranquilo fazer um simples exame depois de ter tido uma doença grave. Não tem jeito... por mais que o tempo passe e por mais segura que você esteja, borboletas batem asas no estômago... (e como batem) hahaha! 
Estive em São Paulo essa semana, para mais uma revisão pós-tratamento. E, apesar da certeza de que está tudo bem, depois de ter olhado todos os exames várias vezes, de ter conferido cada pedacinho do corpo analisado, mesmo assim, precisei escutar do meu médico que eu estava ótima. Petrilli e seu super poder para curar ansiedades em uma única frase.
Um ano e dois meses de remissão e alegrias. Felicidade é pouco ao saber que eu e tantos outros amigos de tratamento estão bem. 


Continuo com minha quimioterapia oral... agora em fase de término de tratamento. E o que mais poderia desejar depois de tanta benção? Glórias igualmente especiais para aqueles que me amam. Porque é como eu disse em outra oportunidade: todas as vitórias alcançadas até aqui não me pertencem unicamente. É de todos que não me deixam titubear, apesar de, às vezes, esse ser o caminho mais fácil.


Deus, obrigada por tudo!

E não é verdade?

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o sorriso é farto e o chope é gelado. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário. Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado. 
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.
Difícil é permanecer do seu lado quando todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na platéia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando.
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade e, principalmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente."
Autor desconhecido 


Bjo, bjo, bjo.

domingo, 8 de setembro de 2013

Hoje o céu está tão lindo

Na noite deste domingo, um fenômeno astronômico pode ser acompanhado em algumas cidades do Brasil e da Jordânia. Incrivelmente lindo: a junção do planeta Vênus com a Lua Crescente.

Admiradora da lua, a leitora do G1 Kelly Silva clicou o fenômeno em sua casa em Itajubá, Minas Gerais (Foto: Kelly Silva/Vc no G1)

Em Amã, na Jordânia, a lua e Vênus podem ser vistos atrás das colunas romanas do Templo de Hércules (Foto: Muhammad Hamed/Reuters)

Aqui em Montes Claros, saindo do plantão, ganhei esse lindo presente da natureza. E, talvez não fossem as circunstâncias do dia, não teria olhado para ela com tanta admiração. Isso só demonstra que a natureza é incomparavelmente superior ao mundo "cultural" dos homens. O tédio tomou conta do planeta... nada surpreende as pessoas, mas quando nos inclinamos para a grandeza das coisas do alto, percebemos a maravilha que é estar aqui neste planeta... 
Hoje o céu está tão lindo (sai chuva)...

sábado, 7 de setembro de 2013

Cuidado com as unhas

Durante a quimioterapia e radioterapia, a pele costuma ficar mais seca e frágil que o habitual. Com as unhas não é diferente e elas precisam, também, de cuidados especiais. Quem me conhece sabe que sempre fui apaixonada por esmaltes e produtos para as unhas e durante meu tratamento não deixei essa paixão de lado. Além de dar um up no visual, unhas bem tratadas dizem muito a respeito do nosso estado nutricional.


Apesar da minha fissura por esmaltes e afins, durante tive alguns cuidados indispensáveis para quem vive de baixas na imunidade e em contato frequente com o ambiente hospitalar.

1. Tamanho das unhas
Gosto de unhas de tamanho mediano: nem curtas demais, nem a lá Zé do Caixão... Como unhas grandes acumulam muita sujeira, o ideal é que fiquem pelo menos rentes ao dedo, evitando infecções. 


2. Hidratação
Já disse em outro post que adoro usar Bepantol para hidratar as unhas. Esse cuidado tão simples foi fundamental para minhas unhas não se esfacelarem com a quimioterapia. Também fiz uso de uma cera nutritiva da Granado que, além de hidratar, evita o aparecimento daquelas manchas amareladas ou escurecidas. Outro super achado foi o Mavala Cuticle Cream. O preço é salgado, mas os resultados são incríveis.



3. Ventilação
Esmaltes são lindos e irresistíveis mesmo, mas sempre que possível é bom deixar a unha "respirar". As camadas de esmalte impedem a perfeita ventilação, favorecendo a cor amarelada e o enfraquecimento das unhas. 


4. Conforto
Evite sapatos apertados. O atrito intenso das unhas com calçados desconfortáveis fragiliza sua implantação nos dedos, podendo gerar unhas encravadas e inflamadas. Já pensou? Conforto e praticidade em primeiro lugar. 


5. Cutículas
Sempre amei tirar a cutícula, apesar de saber do seu fator protetor. No entanto, durante a quimioterapia, as cutículas se desenvolvem muito pouco, tornando-se quase imperceptíveis. Vez ou outra, acertava as pontinhas espetadas. O ideal é que elas fiquem lá... usei muitos cremes removedores para "empurrar" a cutícula. O resultado é ótimo e os benefícios melhores ainda: sua unha pode ficar bonita e protegida.


6. Esmaltes
Dispensa muito comentário. Sou fã mesmo e não vivo sem. Nos últimos anos, suas diversas cores, texturas e tipos de cobertura são cuidadosamente pensados para agradar o público feminino. Uma febre, que mulher nenhuma recusa... 


Gosto muito de esmaltes escuros, do vermelho, passando pelo café e chegando ao preto. Além de lindos, ajudam a disfarçar as unhas amareladas. Mas os tons claros também são lindos e tem hora que caem muito bem. Gosto de usar escuro nas mãos e claro nos pés, mas essa é uma regra que não se aplica a todas as pessoas e as opções são livres. Para quem é super alérgico, a linha hipoalergênica é excelente opção, apesar do preço mais alto. As cartelas de cores trazem muitas opções.





7. Evite o uso de acetona
Removedores de esmaltes à base de acetona podem estragar as unhas, deixando-as esbranquiçadas. Prefiro os lenços removedores, que possuem fórmula especial capaz de hidratar e evitar que as unhas quebrem com facilidade.


8. Tenha seu próprio material
Parte super importante do cuidado às unhas, não é mesmo, gente? Seu material de beleza é seu material de beleza. Alicate, lixas, cortadores e por aí vai... Se esse cuidado é indispensável para quem não faz nenhum tratamento de saúde, imagine para quem faz quimioterapia. Então, tenha seu próprio kit.


E se jogue...


Bjo, bjo, bjo.

domingo, 1 de setembro de 2013

Prepara!

Há 100 dias da maior realização da vida dos meus ex-sempre colegas, plumas, paetês, franjas, pérolas, coletes e fotos para jamais se esquecer de que o melhor sonho é aquele no qual nunca deixamos de acreditar. 
Minha ex-turma, minha sempre turma, daqui a 100 dias: médicos. E mesmo diante de toda a desvalorização da medicina, de nossos políticos asquerosos e daqueles que nos acham mercenários, mostrem a eles como nossa profissão é e sempre será linda. Linda de viver...





"Olhar para trás após uma longa caminhada pode fazer perder a noção da distância que percorremos, mas se nos detivermos em nossa imagem, quando a iniciamos e ao término, certamente nos lembraremos o quanto nos custou chegar até o ponto final, e hoje temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas sabemos mais uns dos outros. E é por esse motivo que dizer adeus se torna complicado! Digamos então que nada se perderá. Pelo menos dentro da gente..."
João Guimarães Rosa.