domingo, 29 de dezembro de 2013

Feliz Ano Novo

Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar para estacionar. Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos. Tempo consumido em estudos, festas, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano? Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos ao deixar de lado tantos momentos pequenos, porém tão essenciais, outras formas de ser feliz. Envelhecemos passando creme anti-ruga no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos deixando passar noites em claro na pré-prova e achando que todo mundo é estúpido, menos nós. Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil do que crescer. Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças. Crescer é a anti-repetição de idéias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos. Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca. Envelhecer é manso, sereno. Envelhecer é uma apatia, um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece. O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que se passaram iguais, sabedoria que não renovou. Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor.



Um feliz Ano Novo a todos, com muita saúde e paz.
Bjo, bjo, bjo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dica do Dia

Se você está se sentindo feia porque está sem cabelo, fique diante do espelho e olhe para dentro.



Ótimo final de semana a todos!
Bjo, bjo, bjo.

sábado, 5 de outubro de 2013

Cabelos curtos, pra que te quero?

Reinventar. Talvez esta seja a melhor palavra em alguns momentos da nossa vida. Já dizia Cecília Meireles, em toda sua sensibilidade e franqueza, que "a vida só é possível reinventada". Por mais duros que sejam nossos caminhos, sucumbir à dor não parece ser a melhor das opções. Então, bola pra frente...
Onde quero chegar com isso? Talvez no assunto que mais nos abala quando vamos fazer quimioterapia: nossos cabelos. Sim... o cabelo! Apesar de muita gente achar isso "o de menos", sei o quanto é importante para uma mulher, o quanto fazem falta os fios pelo rosto, esvoaçantes ao vento. É como se perdêssemos parte da nossa identidade, da moldura da face, do ar feminino. Mas já que não temos muitas saídas, o importante é levantar a cabeça e reinventar, reinventar, reinventar...
Há pouco menos de 1 ano, meus cabelos começaram a crescer. E sem querer desanimar ninguém, como eles demoram!!! Meu Deus... Mas nesse tempo ando curtindo todas as fases: daquela penugem que nasce primeiro até o cabelo ir ganhando forma de cabelo mesmo. 
Conheço muita gente que mesmo após o nascimento dos fios não consegue se desvencilhar do lenço, da peruca, do chapéu. E é por isso que resolvi mostrar que os cabelos curtos estão super na moda e como podemos ficar lindas e divas com nossas madeixas curtinhas. Inúmeras são as mulheres que assumem o visual com muita beleza e estilo. Além disso, o que conta não é só o cabelo curto: é como o arrumamos, é o cuidado que temos com nossa pele, é o acessório que usamos e que super produz resultado. Enfim... é o conjunto de tudo que tira de nós o aspecto de alguém que passou por um tratamento médico. Reinvente: use e abuse do que você tem de melhor e se jogue.
A seguir, fotos de lindas mulheres que fizeram quimioterapia, perderam seus cabelos, sofreram, mas que, nem por isso, deixaram de ser vaidosas... e estão aí maravilhosas de cabelos curtos. Para nos inspirar:

Alessandra Corpas


Carolina Bronze Zimer


Cintia Sevaux


Patrícia de Campos Valadares


Bianca Prescovia


Da série: Uma linda mulher
Bjo, bjo, bjo.

domingo, 22 de setembro de 2013

Virada de Estágio

Momento mágico, aguardado desde o primeiro período e não esquecido até mesmo depois da formatura. Virada de estágio: uns se despedem do estágio de Cirurgia e outros dão adeus à Ginecologia e Obstetrícia. E quantas emoções por trás disso tudo. 
Há exatamente 1 ano, quando minha ex-turma virava estágio, a minha virada parecia tão longe. Gente... mas como o tempo está passando rápido. E é por isso que digo que devemos procurar viver o dia de hoje como o único de nossas vidas... 
Turma 55 Medicina Unimontes, minha querida sala, que me acolheu tão bem e me trouxe momentos tão incríveis, obrigada!






Da série: Viva la Vida!
Bjo, bjo, bjo.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os meus, os seus, os nossos sofrimentos

Helena está inconsolável depois de terminar um namoro de anos com a pessoa a qual dedicou tempo, vida e amor. Júlia sofre porque não consegue por fim a um relacionamento que a faz sofrer. Amália está depressiva porque seu marido pediu o divórcio. Sara quer ser amada. Roberta acredita em almas gêmeas.
Uma garota entra no salão desesperada, pois sua unha quebrou. Outra moça está arrasada com as pontas duplas dos seus cabelos. Uma terceira jovem não sabe se faz escova marroquina, de aminoácidos, de morango, de cristal ou de chocolate. Muitas outras mulheres se dividem para escolher a cor e o corte de seus cabelos. Houve um tempo em que um par de cílios tímidos fazia minha alegria.  E hoje muitas das minhas amigas dariam tudo para viver esses momentos fúteis no salão de beleza.
Meu vizinho reclama que sua esposa engordou, mas esquece de olhar para sua própria barriga. Outro reclama da dor nas costas e nos joelhos depois do futebol. Quinta é dia deles estarem empolgados ou irritados por causa do resultado de quarta no brasileirão. Mas agora eu conheço pessoas que sonham em não sofrer mais com os resultados de seus exames de sangue, da tomografia, do pet scan, da consciência.
Cecília reclama do seu vôo atrasado, pois assim perderá alguns minutos de seu passeio em Paris. Luciana acha o fim do mundo sair de casa no meio da semana para visitar sua mãe no outro lado da cidade. Outras reclamam que o trabalho tem lhes tirado a beleza, o tempo, a vitalidade. Mas agora eu conheço pessoas que não passeiam até a esquina para não ficarem doentes devido a sua baixa imunidade... outras perderam sua mãe para doenças terríveis. E muita, muita gente viaja horas infindáveis para ir à consulta ou fazer quimioterapia. E depois pega o caminho de volta com a mesma força de vontade da ida.
Mariah não sabe mais o que fazer com o filho, que corre o tempo todo, pula, rabisca suas paredes cor de gelo... já pensou em até chamar a Super Nani para ele. Camila recusa o abraço do caçula que voltou da escolinha sujo de terra depois de brincar com os amigos. Zilá não sabe como sustentar os 4 filhos depois de ter sido abandonada pelo marido. Renata sonha em ser mãe. Marinalva só queria dar um abraço no filho que o câncer levou. Carolina quer que seu primogênito levante da cama e lhe dê um beijo.
Muitas vezes eu reclamei que o câncer levou meus cabelos, um ano da minha faculdade, o contato com alguns amigos, mas me esqueço das pessoas que perderam a visão, uma perna, a dignidade, a vida...
Li um depoimento esdrúxulo esses dias. Uma mulher zureta porque o médico não indicou quimio nem radioterapia, só "uma porcaria de medicamentos". Ou não confia no profissional ou precisa urgente de um psiquiatra. Quem, nessa vida, sonha em fazer quimioterapia? Menos, por favor. Também escutei uma pessoa reclamar do marido. Depois que ela terminou o tratamento, ele vive para fazer planos de viagens em família, mas a infeliz só quer se trancar no quarto e chorar. Mal sabe ela quantas mulheres foram completamente humilhadas por seus companheiros depois do câncer, quantas não poderão mais ter filhos, quantas não tiveram a chance de tratamento. Sim, posso até estar errada porque cada um tem sua vida e suas paranóias, mas tem coisa que não desce pela garganta. Para muitos, uma unha encravada é motivo de dor; outros não têm pés. O que para mim é nada, para outro pode ser tudo e vice-versa.
Quem vive ou já viveu no limite da vida tem uma chance a mais de aprender a valorizar os pequenos prazeres: tirar a sobrancelha, fazer espuminha quando vai lavar o cabelo-kiwi, poder comer o que quiser e não sentir enjôo, ir bater perna na rua, ficar uma semana sem levar furadas... marcar compromisso em Dezembro, quando ainda é Maio. Ir para a aula, tomar sorvete sem medo de pegar resfriado, ficar em casa curtindo preguiça porque quer e não por necessidade, assistir novela e futebol com os amigos, dar seu pitaco, não ser vista como a pobre coitada doente e com os dias contados. E quantas outras fontes de alegria vão preenchendo a vida, assim, em conta gota, para ser saboreada vagarosamente. Mas verdade seja dita: é mesmo necessário passar pelo limbo para se chegar ao céu? É de fato preciso andar pelo caminho das pedras para alcançar o paraíso? Acho que não. Sorte de quem é poupado da treva e mesmo assim sabe viver bem. 
Na medida do possível, dê um toque na pessoa sem noção, no "reclamão" da vez, naquele que tem tudo e acha que não tem nada. E se o sem noção é você, saia do espelho, não sofra tanto por coisas banais, fúteis, corriqueiras, indignas. Até que se prove o contrário, temos só essa vida e ela, acredite, é bem curta... não espere ficar no despenhadeiro para dar valor ao dia de hoje.
Os meus, os seus, os nossos problemas podem não ser os mesmos, não ter igual intensidade nem solução, mas que tal ser exemplo de coragem em vez de o "chatinho" da turma?


Uma semana abençoada a todos nós. Minhas energias a todos os meus amigos que passarão por cirurgias, que estão sofrendo com o tratamento e com exames, com o cabelo que está caindo ou que não está nascendo, com os leucócitos que tiraram férias... Enfim, essas coisas que conhecemos bem.
Bjo, bjo, bjo.

Overdose de mim

Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não viria com um simples copo de coca-cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clássicos do mal-estar, e sim excesso de mim. 
Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mesmo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite, no único relacionamento que é verdadeiramente pra sempre.
Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos, cujas canções possuem letras divertidas e sarcásticas, entre elas, "Me amo", uma crítica bem-humorada a essa era narcisista que estamos vivendo. O personagem da música não ouve ninguém e não consegue imaginar como seria o mundo sem sua presença. Tem muitas garotas, porém nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós. "Soy mi pareja perfecta".
Intoxicação talvez seja isso: considerarmos que somos um par. Só que no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fujir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinha e outro eu que precisa amar. Nada de pareja perfecta e sim caótica.
Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. Perdemos muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente para o espelho e de costas para o mundo.
É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas como toda relação essa também se desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa no singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu.


Sem mais delongas.
Bjo, bjo, bjo.