terça-feira, 17 de setembro de 2013

Overdose de mim

Outro dia acordei com uma espécie de ressaca existencial, sentindo necessidade de me desintoxicar, e era óbvio que o alívio não viria com um simples copo de coca-cola. Precisava, antes de tudo, descobrir o que é que estava pesando, e logo percebi que não era excesso de álcool, nem de cigarros, nem de noitadas, os bodes expiatórios clássicos do mal-estar, e sim excesso de mim. 
Desconfio que já tenha acontecido com você também: de vez em quando, sentir os efeitos da overdose da própria presença. Desde que nascemos, somos condenados a um convívio inescapável com a gente mesmo. Quando penso na quantidade de tempo que estou presa a essa relação, fico pasma de como consegui suportar tamanho grude. Eu e eu, dia e noite, no único relacionamento que é verdadeiramente pra sempre.
Ando escutando uma banda uruguaia chamada Cuarteto de Nos, cujas canções possuem letras divertidas e sarcásticas, entre elas, "Me amo", uma crítica bem-humorada a essa era narcisista que estamos vivendo. O personagem da música não ouve ninguém e não consegue imaginar como seria o mundo sem sua presença. Tem muitas garotas, porém nenhuma é digna dele. Está muito bem acompanhado a sós. "Soy mi pareja perfecta".
Intoxicação talvez seja isso: considerarmos que somos um par. Só que no meu caso, sou um par em conflito. Um eu que deseja fujir e outro eu que deseja ficar. Um eu que sofre e outro eu que disfarça. Um eu que pensa de uma forma e outro eu que discorda. Um eu que gosta de estar sozinha e outro eu que precisa amar. Nada de pareja perfecta e sim caótica.
Uma relação tranquila consigo mesmo talvez passe pela conscientização de que não devemos dar tanto ouvido às nossas vozes internas e que mais vale nos reconhecermos ímpares e imperfeitos por natureza. A vida só se tornará mais leve e divertida se pararmos de nos autoconsumir com tanta ganância e darmos uma olhadinha para fora. Perdemos muito tempo pensando na nossa imagem, no nosso futuro, nos nossos problemas, nas nossas vitórias, no nosso umbigo. Até que um dia acordamos asfixiados, enjoados, sem ânimo e sem paciência para continuar sustentando a pose, correspondendo às expectativas, buscando metas irreais, vivendo de frente para o espelho e de costas para o mundo.
É a era do egocentrismo, somos vítimas de um encantamento por nós mesmos, mas como toda relação essa também se desgasta. Fazer o quê? Esquecer um pouco de quem se é, esquecer da primeira pessoa no singular, das nossas existências isoladas, e pensar mais no que representamos todos juntos. Ando cansada de tantos eus, inclusive do meu.


Sem mais delongas.
Bjo, bjo, bjo.

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