sábado, 12 de maio de 2012

Finitude

Até há algum tempo, eu jamais imaginei que um dia poderia viver tantas experiências como tenho presenciado hoje. Emoções de todos os tipos, que deram uma freiada em minha vida, fazendo-me entender que, nem sempre, o airbag se abre na nossa frente. Tive uma semana difícil, não só em razão das minhas veias terem hibernado, mas porque presenciei situações que arrancaram lágrimas até dos olhos mais resistentes. E, além das lágrimas, momentos que nos levam a refletir sobre tanta coisa que mal sabemos por onde começar.
Dois anjos lindos, Júlio e Carol, bateram suas asas e voaram livres para o céu nessa semana. Crianças que mal tiveram tempo de brincar de boneca ou carrinho porque precisavam ir para a quimioterapia ou a outros compromissos que um tratamento oncológico exige. No entanto, mesmo com todas as pedras dos seus caminhos, eles passaram por muitas delas correndo, sorrindo, tendo coragem ou medo... um exemplo para lá de gigantesco. Tenho procurado entender tudo isso, mas, de verdade, é muito difícil você vir uma vida tão linda sendo ceifada dessa maneira e ainda assim ficar com o coração conformado.
Diante de tudo isso, me perguntei várias vezes qual o sentido dessa nossa vida, qual o valor que ela tem, o que, realmente, nos importa e o que devemos levar dela quando nossa hora de voar for inadiável.
Há algum tempo, fui apresentada a um texto fantástico que, antes mesmo disso tudo acontecer, já era um mandamento para mim... imaginem agora. Todavia, ontem, o reli como nunca havia feito... com os olhos e coração muito fragilizados pela já saudade dos meus amigos que se foram. Mais uma lição capaz de quebrar algumas regras do manual de instrução que recebemos logo nos primeiros anos de nossa existência. Leia e viaje nessas palavras:

Finitude 

O finito se expressa quando dou conta da existência de milhões de pessoas que jamais irei conhecer.

Para muitos, a finitude humana pode ser percebida pelas rugas que se multiplicam a cada ano no espelho, pelo vocabulário que soa inadequado ou pelo simples tique-taque do relógio pendurado na parede da cozinha. A finitude humana pode, ainda, ser detectada pelos filhos que crescem e pelos netos que nascem. A mim, a finitude se apresenta todo santo dia numa parada de ônibus, numa ciclovia, no balcão de um posto de informações. Meu carro passa veloz por uma rua e vejo um homem esperando o transporte que o levará de volta para casa. Um homem qualquer, que eu olho uma única vez e nunca mais tornarei a enxergar. Nunca mais rever é uma pequena morte.

Uma garota passa por mim de bicicleta. Mal tenho tempo de reparar se é morena ou ruiva, se sua mochila é grande ou pequena. Mas foi uma garota percebida por minha retina, que cruzou minha vista e minha vida por breves segundos, e para nunca mais. Assim como o homem que me atende atrás de um balcão, que fala comigo – fala comigo! –, me sorri e tira minha dúvida, e num instante lhe agradeço e viro as costas, e jamais saberei se ele é um profundo conhecedor da obra de Nietzsche ou um rapaz perturbado pela falta da mãe ou ainda um boçal que nas horas vagas depreda orelhões. Ele existe ou não existe para mim? Não existe.

Finitude eu sinto quando me dou conta da existência de milhões de pessoas que eu jamais irei conhecer, com as quais jamais irei conversar e interagir. De todas as que poderiam me ensinar a ser mais tolerante, de todas as que poderiam me fazer rir, de todas as que eu poderia amar ou desprezar, sofrer por elas, esforçar-me por elas, crescer através delas. Finitude eu sinto quando cruzo um olhar que não me ficará nem na memória, pois não há tempo para lembranças efêmeras. Uma vez ensinei uma menina, na beira da praia, a reconhecer as letras do próprio nome, e já não lembro que nome era esse e que menina era aquela. Nem ela de mim sabe nada. Uma cena começa e termina sem continuidade: finitude. Neste instante enxergo um senhor debruçado sobre uma varanda, olhando o movimento. Ele espia a vida dos outros, que nunca mais reverá. Eu olho para esse singelo voyeur, que daqui a instantes também desaparecerá para sempre de minha atenção. No entanto, um ser humano é o que há de mais rico. Uma vida é o que há de mais original. Surgem e nos atropelam tantas vidas, tantas pessoas para sempre inacessíveis, desperdiçadas em seu talento, em seu potencial transformador, em sua capacidade de nos emocionar. A esmagadora maioria delas passa e não fica, são flashes do olhar. Agarremo-nos, pois, às que ficam, permanecem, são reconhecíveis pelo nome e pelo trajeto percorrido em nós. Aproveitemos o material humano de que dispomos: família e amigos e amores. Escassos, raros e profundamente necessários.
Martha Medeiros
 
 
 
 
Portanto, VIVA o agora, viva mesmo, com toda intensidade e força, com tudo que você tem direito... não apenas brinque de existir. Abrace quem está ao seu lado, beije, chore, emocione-se com suas vitórias, assista a um filme junto de quem ama, tenha uma tarde incomum num dia comum, ligue tarde da noite (alô, Luciano?). Jamais saberemos quando isso tudo será interrompido e como será. Valorize quem está ao seu lado (ao seu lado!!!)... ame, apaixone-se, grite, sorria, declare-se, estude e tire 10 na prova, aprenda a falar outra língua... dê a você e aos outros o prazer de viver e conviver. Nossa vida é uma só até que se prove o contrário. E essa é a única chance de sermos felizes, assim como fizeram Júlio e Carol, apesar de tudo. 
Bjo, bjo, bjo.

7 comentários:

  1. O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. (Balzac)
    Seu sentimento é genuíno e sublime. Mas alcançou uma estatura tal, que vc já não fala mais aos homens. Só os outros anjos poderão ouvi-la. Beijo.

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    1. Helcio... sempre me encantando! Difícil achar alguém como vc, com sua sensibilidade.
      Bjo de sua pupila ou de seu anjo barroco (como preferir)!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Rê... que lindo esse texto! Com certeza Júlio e Carol estão em um lugar belo, bem felizes e cientes (mesmo ainda sendo crianças e, portanto, ingênuos anjinhos) da finitude que vivemos aqui.
    Seu blog me inspira a cada dia. Deveria ser lido por todos que, de alguma forma, encontram-se desanimados.

    Um beijo de quem te ama, está com saudades, mas a matará em brevee! Hehehe
    PS: Ainda estou torcendo por suas veinhas, Querida!

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    1. Priiiiii, torça mesmo por minhas veias. Elas precisam desse incentivo... hahahaha!
      Muita, muita, muita saudade!
      Bjooos.
      Te amo.

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  4. Oi Rê! Mto lindo! Eu tb tenho visto coisas difíceis e até escrevi um post sobre isso, vc viu? "O que quis dizer com varrer para baixo do tapete" e o anterior...
    Beijossss, muita luz, amor e saúde!!!!

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    1. Elô linda!!! Adoro seu blog e suas postagens são liiindas de viver! Além do mais, AMO suas dicas de moda, beleza e saúde!
      Bjooos.

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