domingo, 30 de setembro de 2012

Gracinha

Não sou tiete de ninguém, muito menos aquelas pessoas que fazem insanidades em nome de uma admiração infundada por outra pessoa. Mas penso que ontem a partida da Hebe Camargo encheu o coração de muita gente de uma tristeza sincera.
Ela era diva e isso não mudará daqui 50, 100, 200 anos... E não conquistou esse título pelas jóias lindíssimas que possuia, nem pelo cabelo sempre impecável, muito menos pelo dinheiro. Hebe era a própria alegria de viver... característica que nem um câncer agressivo teve o poder de apagar. Um legado que ela deixará para todos nós, independente de qualquer coisa... Sorriso frouxo, selinhos, bom-humor! Ah, eu gostava muito dela e não é somente pelo fato de ela ter tido câncer e eu também. Lógico que ela nos deixa um belo exemplo de serenidade e força e muitas pessoas se sentiram encorajadas com sua disposição para enfrentar tudo, mas não é só isso...
A doença não foi maior que ela... A Hebe foi apenas brilhar em outro lugar.



Vá em paz. Gracinha!

Bjo, bjo, bjo.
 

 

O melhor plano de saúde é viver

Planos de Saúde no Brasil é caso de polícia. Mas não, não vou tecer nenhum comentário ferino aqui a respeito do meu plano, apesar do merecimento. O objetivo desse post é outro. Deixo para depois a destilação de toda indignação que esses serviços causam na maioria dos seus usuários.
O que quero mesmo dizer é que nossa vida está aí justamente para ser VIVIDA. Independente de qualquer coisa, sem levar em consideração que você tem/teve algum problema grave. Viver por tudo ou por nada.
Bendidos os que conseguem viver assim... os que não se cobram por não terem cumprido suas tarefas, mesmo quando se esforçaram ao máximo e deram o melhor de si.
Benditos os que não se culpam por terem falhado, mesmo quando não havia outros caminhos mais certeiros.
Benditos aqueles que não pretendem se adequar à sociedade e ao mesmo tempo serem livres. Ambição em demasia.
Benditos os que vivem bem, mesmo quando tudo diz o contrário: surge uma doença, seu amor foi embora, dinheiro faltou, amigo sumiu.
Benditos, benditos, benditos. E, se você acha que essas pessoas só existem em livros com final feliz, ledo engano. Muitas delas estão ao seu lado, mas você não se deu conta porque não sabe viver... Muitas delas estão do meu lado...
 


 
Ser feliz (por tudo ou nada) talvez seja isso.
 
Bjo, bjo, bjo.

sábado, 29 de setembro de 2012

Alimentação

Dieta equilibrada é vital para a saúde e importantíssima para o sucesso de qualquer tratamento.  Durante a quimioterapia, é essencial manter estilo de vida o mais saudável possível, já que as drogas quase sempre trazem algum efeito colateral. Muitas vezes, elas interferem no paladar, no apetite, no olfato, causam náuseas e vômitos, prejudicando a qualidade de vida e a resposta terapêutica.
Assim que comecei a quimio, recebi várias dicas para driblar os efeitos adversos e não perder peso (todas válidas), mas hoje eu digo que o auxílio de um nutricionista é importante. Por mais que você sempre tenha cultivado bons hábitos de vida, durante o tratamento tudo ganha repercussão diferente e, por isso, ajuda profissional é super válida.
Bom... vamos à parte prática das coisas, mas antes de fazer isso, quero dizer que nem sempre é possível seguir todas as recomendações e dicas que recebemos... tem dia que você não aceita nada. E outra: vou relatar uma experiência pessoal e, portanto, única. No cotidiano, cada pessoa lida com as situações de modo distinto. Não tome nada como regra ou verdade absoluta.
Apesar de sempre ter tido uma boa alimentação, mudei algumas coisas em função do tratamento e vou contar como era minha nutrição na maioria dos dias:
 
Café da manhã
Nunca lidei bem com essa hora do dia! Meu estômago sempre foi fraquinho pela manhã e pelo menos essa culpa a quimio não carrega... hahahaha! Por isso, para "melhorar" nesse quesito, minha mãe sempre fazia vitaminas de leite e futas e, às vezes, ainda acrescentava algum suplemento, como cereais e sorvete. Dependendo da disposição gástrica, eu completava com bolo, pão, iogurtes, queijos e biscoitos. Confesso que tive dias de apetite máximo e, logo cedo, já queria isso tudo e mais um pouco. Em contrapartida, principalmente nos dias pós-QT, anorexia mandava lembranças.
As vitaminas foram excelentes opções para mim porque dava para variar bastante nas frutas e assim não enjoar dos sabores. Além disso, como tive muuuita mucosite nos ciclos do MTX, elas foram ótimos recursos e ajudaram bastante. Era engolir e pronto!
 
 
Almoço
Como estava levando vida de madame e acordando às 9 da manhã, do café, já pulava para o almoço! Arroz, feijão, verduras, legumes, saladas, carne, peixe, frango e ovos. Procurava variar bastante, mas esse era o momento em que eu tinha o melhor apetite e comia de tudo. Com relação às saladas, quando não eram feitas de alimentos cozidos, tínhamos todo o cuidado possível na manipulação das folhas e hortaliças.
Evitava frituras, alimentos com muito condimento e picantes, sal em excesso e usava e abusava de azeites.  
Tirando os dias de folga do MTX, em que era possível comer de tudo, quando minhas mucosas se rebelavam, era muito difícil mastigar e engolir. Nessa hora, investia em alimentos mais pastosos, como risotos, caldos de abóbora, mandioca ou batata com carne desfiada e couve cortada bem fininha. Para aumentar as calorias e melhorar o sabor, acrescentava creme de leite ou requeijão cremoso. Delícia!
Sobremesas são um caso à parte. Não gosto muito de doces, mas, durante a quimio, tinha dia que eu dava tudo por um docinho... hahaha... Amava brigadeiro e guloseimas de amendoin. Pudim de leite condensado ficava para as crises de mucosite... fácil de engolir, gostoso de se comer. Ah, e é claro: os olhos de sogra de Flávia... hahaha!
 
 
Lanche da tarde
Se você tem um nutricionista de plantão, sabe que ele é taxativo: é para comer de 3 em 3 horas e não se fala mais nisso. Meus lanches da tarde eram quase um repeteco do café da manhã. Vitaminas, principalmente no período mucosite, mas também gostava de comer pão de queijo (alô, Minas!), bolo de cenoura (adoro demais) e biscoito quentinho, feito na hora... hahahaha! Sim, eu passava bem. Mas como vivemos numa montanha russa gástrica, tinha dia que eu não queria nada disso. Salada de frutas caiam muito bem nessas horas... leves, saborosas e saudáveis!


Jantar
Sopas de legumes, verduras e carne reinavam absolutas, principalmente no frio. Entretanto, massas também tinham seu lugar. Carboidratos são excelentes para quem precisa ganhar peso, além de muito saborosos... E toda vez que eu perdia um grama, dá-lhe de massas e comidinhas bem engordativas... hahaha...



Água e sucos
Use e abuse: é a regra!
Água e líquidos de um modo geral são vitais para o organismo. Durante a quimioterapia, aumentar a ingesta hídrica foi mandatório para mim por dois grandes motivos: primeiro porque as drogas podem provocar muitos episódios de vômito e aumentar o risco de desidratação grave; depois porque nas aplicações de MTX beber muita era essencial para sair do controle da droga e também evitar danos renais, já que a eliminação do Metotrexate se dá pelos rins.
Muitas vezes, a água, em si, é super nauseante e aí entra a opção da água de coco, rica em carboidratos e minerais. Tomei muita nos ciclos do MTX, já que, por via de regra, sua ingestão era permitida.
Sucos são super bem-vindos. Como tive muita mucosite, evitava ao máximo os ácidos, como de laranja, limão e maracujá. Graviola está na moda e é super gostoso. Além do que, para quem faz quimio, sucos são bem melhores recebidos que a água, embora saibamos da sua imensa importância no organismo.
Não gosto muito de chás, mas tomava quando estava enjoada das outras coisas. Há uns bem gostosos, como de frutas vermelhas e camomila.
Parei com refrigerantes.
Enfim, o importante mesmo é manter uma boa hidratação e, mesmo quando não há a mínima vontade de beber alguma coisa, a força de vontade deve ser maior... os benefícios são imensos!



Durante os oito meses de quimio e as 5 semanas de radio, não tive problemas com perda de peso (2 kg a menos na balança, mas sem prejuízos maiores) nem desidratação e isso foi determinante para mim. É óbvio que tive períodos de fragilidade, dias em que nada me atraia e também momentos em que não conseguia comer nem beber coisa alguma.  No entanto, é válido ressaltar que isso tudo passa e, na hora que o apetite aflorar, aproveite e ganhe tudo que você perdeu, fazendo uma reserva... ela pode ser necessária nos dias de hiporexia.
Para não ficar mais extenso, em outro post falo sobre os suplementos alimentares no período de internação e também sobre como evitar/corrigir a anemia pela alimentação.
Comer, comer... comer, comer é o melhor para poder crescer... hahaha!

Bjo, bjo, bjo.
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cleo e Alvin: pílulas de carinho

Durante todo meu tratamento, eles estiveram ao meu lado. Fiéis, únicos, carinhosos, cheios de charme. Cleo e Alvin foram, sem a mínima dúvida, potencializadores das formas mais genuínas de amor. Enfrentaram todo tipo de desafio para ficarem comigo, dia e noite, noite e dia, sem titubearem. Com o alvará de Petrilli, meus dogs, amores da minha vida, não desistiram um dia sequer de mim, não se irritaram mesmo quando eu estava insuportável, não me negaram várias lambidinhas, sempre me recebiam com a mesma alegria e rabinhos balançantes. Para muitos, pode ser exagero; para outros, humanização de animais; para tantos, incompreensível. No entanto, quem tem um animalzinho de estimação e o considera como membro da família, sabe o que sinto. Sem mais delongas...
Para quem deseja receber essas doses extras de cuidado e amor, tenho informações preciosas para dar:
 
Cleo e Alvin
(Pílulas de carinho)
 
Composição
Cada cachorrinho contém 35g de amor, 35g de carinho, 20g de beijos, 15g de saudade, 12g de abraços, 17g de amizade e muuuuuuuuuuuita emoção.
 
Informações ao Paciente
Indicado para o tratamento agudo e crônico dos sinais e sintomas de fortes sentimentos como amor à distância, amizades duradouras, aniversários memoráveis, admirações especiais, paixões enormes e muitos outros sentimentos lindos.
 
Informações Técnicas
Mecanismo de ação:
São potentes maximizadores de coisas boas, aumentam a liberação de serotonina e o armazenamento de neurotransmissores.
Estudos Clínicos:
Em estudos com pacientes especiais, foi comprovado em laboratórios do mundo inteiro, que o princípio ativo presente nesses cachorrinhos faz bem à saúde do coração, liberando uma inexplicável dose de uma substância incontrolável denominada sorriso.
 
Indicações
Tratamento agudo e crônico dos sinais e sintomas da saudade
Tratamento agudo e crônico dos sinais indicados pela falta dos abraços de quem se ama
Alívio da dor de cotovelo
Tratamento de super amizades
E várias outras coisas boas...
 
Contra-indicações
São contra-indicados àqueles que não respeitam os animais e não os amam com fidelidade.
 
Precauções
O tratamento com essas pílulas de carinho não é recomendado para pessoas que querem ter qualquer tipo de maldade no coração. Os sentimentos descarregados por esses cachorrinhos podem desempenhar um papel determinante na perfusão desta maldade, fazendo, desta forma, o extermínio destas enzimas más através dos seus flocos de boas energias.
 
 
Da série: É amor demais...
 
Bjo, bjo, bjo.
 
 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Welcome back, Montes Claros!

Em sua última visita a São Paulo, meu irmão voltou para casa com a certeza de que eu, meu pai, minha mãe e os dogs, em breve, embarcaríamos rumo a Montes Claros. No prazo de, no máximo, uma semana, chegaria o momento grandioso, aquele pelo qual esperamos, ansiosos, por muito tempo. Impossível descrever com fidelidade o que estávamos sentindo. Por mais que São Paulo tenha nos recebido da melhor maneira e que aqui eu tenha tido a maior vitória da minha vida, minha casa é minha casa. Nunca gostei muito de Montes Claros. Não era segredo para ninguém... o clima é muito quente, a cidade pouco arborizada, trânsito caótico, o prefeito uma ofensa à inteligência da população. Mas foi lá que eu nasci, passei infância e vivi os melhores e mais inesquecíveis momentos. Lá tem minha faculdade, amigos, parentes e um sol escaldante.
Depois de ter feito todos os exames necessários para voltarmos para casa com segurança, era hora de arrumar as malas. Durante todo o tratamento, não fui para Montes Claros uma vez sequer e, por isso, a saudade de tudo e de todos era imensa. E no domingo, 5 de Agosto, eu estava embarcando, com a ansiedade de quem voltava para seu porto seguro, seu aconchego. Felicidade era pouco para expressar o que se passava em meu coração. Sabia que muitos me esperavam, que muitos queriam me abraçar, desejar boas-vindas, saúde e paz.
Cheguei no cair da tarde, com temperatura de 33° graus, condição que virou piada para o piloto e comissários de bordo... hahahaha! Muito quente, mas o que eu queria mesmo era o calor das pessoas, que há muito tempo estavam longe. Durante as preparações para a volta, fiquei imaginando como seria esse retorno. Sophia me prometeu fogos de artifício; Mixas vários gritos em seu melhor estilo; Tabatinha muito glamour; Alê, Gustavo e Evelin infinitos abraços; Thaís perfuraria todos os meus órgãos com suas unhas (que melhoraram muito); Nuninha tiraria a melhor foto; Polly e Bio risadas intermináveis e tia Neusa e cia Ltda. um carro de som (me mata de vergonha... hahahahaha).
Desembarquei esperando de tudo um pouco, mas depois de pegar as malas, cadê todo mundo? Pensei que era pegadinha do malandro, que as pessoas estavam escondidas, camufladas, atrás de alguma pilastra do aeroporto... hahaha... mas não! Elas estavam atrasadas ou não? Por ironia do destino, meu vôo estava adiantado (coisa rara, mas acontece) e aí todos perderam minha chegada glamourosa... hahaha. Passados uns minutinhos, todos foram aparecendo e aí dá-lhe alegria, emoção, felicidade. Parentes, amigos, colegas, minhas avós lindas e muitos abraços tipo Malwee.



Festa! Surpresa... para dar sorte na volta e eu me sentir a mais amada. Celebrações, presentes, recadinhos carinhosos, docinhos. Abrir a porta e reconhecer aquele ambiente, olhar para meu quarto e encontrar o origami que deixei pendurado, a era no muro crescida e verde. Aconchego maior não existe... com certeza, é o melhor lugar do mundo. Agradecer é pouco por todo carinho, pela torcida, pela felicidade e as lágrimas nos olhos com que muitos me receberam. Ficará para sempre, sempre.



"Voltar para casa é engraçado. Tudo tem a mesma cor, o mesmo cheiro. Nada muda. E aí nos damos conta de que quem mudou fomos nós.".

O curioso caso de Benjamim Button

Bjo, bjo, bjo.
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Estamos indo de volta pra casa

Por Enquanto
Cássia Eller

Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era para sempre
Sem saber, que o para sempre, sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir nem tentar agora
Tanto faz
Estamos indo de volta pra casa...



Bjo, bjo, bjo.

R.E.M.I.S.S.Ã.O

Estive gravemente doente. Sem exagero ou drama, meu prognóstico não era dos melhores e as chances de cura reduzidas. Durante exatos 8 meses, fiz tudo que me foi proposto: quimioterapia em altas doses, radioterapia, exames, consultas. Tive mucosite para dar e vender, pirei com a Cisplatina, saí de todos os controles do MTX dentro do tempo normal, não tive nenhuma intercorrência grave, não precisei de transfusões.
Oito meses. Tempo mais que suficiente para mudar minha vida e de todos que estão ao meu redor. Tempo em que os tumores da coluna vertebral, das costelas e da perna foram bombardeados por todo tipo de terapêutica eficaz contra eles. E eu vi, a cada exame feito, que os 7 pontos de lesão estavam, de fato, sofrendo com a overdose imposta. Nada de crescimento dos tumores, nada de metástase pulmonar, nada de aparecimento em outros locais. Difícil acreditar, mas presenciei esses fatos. E eu, Renata, também fui testemunha de muitos outros milagres, desses que a medicina se questiona, torce o nariz, desconfia, mas não pode negar a existência.
No entanto, o maior dos acontecimentos foi o fim do tratamento e a entrada na fase de manutenção. Saí sem nenhuma sequela, sem nenhum rancor, sem nenhum trauma. Continuei sendo a mesma pessoa de sempre, porém com um agravante: muito mais madura e preparada para a vida, vestibular pelo qual todos os dias somos submetidos.
Engano achar que tirei de letra tudo isso. Também tive meus momentos de irritação máxima, desesperança, medo, vontade de desistir. E quando as veias insistiam em sumir então... aaff! Vivi na montanha russa, no limite, na fronteira. E hoje percebo que precisei vivenciar o luto em muitos momentos, precisei sofrer por aquilo que as pessoas chamam de "o de menos". Faz parte do processo de cura e ignorar essa etapa é furada. Não me senti na obrigação de ser feliz todos os dias, ter bons e belos pensamentos, ser positiva e alimentar um bom humor invejável. Quem recebe um diagnóstico desse não consegue ser a majestade do otimismo. Não consegue nem pode! Enfim, fui humana, me dei esse direito.
Convivi com pessoas incrivelmente especiais, mas vou deixar Petrilli como representante maior. Ele me prometeu um bisturi de manteiga e chocolates no pós-operatório, mas acho que só uma visita do Gianecchini mesmo para aliviar a dor de uma cirurgia torácica... ahahahaha! Exemplo máximo e inquestionável do que é ser médico (ele é médico, não só fez medicina), do que é ser humano, do que é ser gentil e educado, do que é ser o papa do osteossarcoma e mesmo assim não se sentir como o tal. Difícil achar aí, nas esquinas da vida, alguém igual a ele. Sorte minha ter conhecido.
Desde então, cada segundo de vida toma proporções incalculáveis para mim. V.I.D.A.... só quando contemplamos a morte tão de perto, começamos a dar valor. Ao perceber isso e vir tanta criança perdendo sua infância nas salas de quimioterapia, passei a acreditar que o significado de justiça permeia o divino. Nós, homens, não compreendemos. Tentei, mas jamais vou entender porque tantas vidas lindas são submetidas a processos tão dolorosos, debilitantes e torturantes para seres que só querem brincar de carrinho e boneca. Talvez essa tenha sido uma das experiências mais marcantes... lembrar das crianças que conheci e de como suas existências foram marcadas pela doença.
Ainda não posso dizer que estou curada... isso demanda um certo tempo, entretanto estou em REMISSÃO. E, para quem passou por toda essa turbulência, essa palavra soa como música. Durante 1 ano e meio, ainda farei uso de quimioterapia oral (Ciclofosfamida e Metotrexato em baixas doses), de segunda a sexta-feira. Felizmente, não estou tendo problema algum com uso das drogas. É tranquilo, fácil e um pouco de boa vontade ajuda demais. Além disso, quem já recebeu quimio venosa, nem deve sentir o peso mínimo dos comprimidinhos pela manhã... hahaha...
Enfim, tudo nessa vida passa mesmo (eu sei, eu sei... é mais um bordão chato, mas isso não tira suas verdades)... como diz uma tia, se as coisas boas vão embora, as ruins também vão... Estou feliz! Mais que isso... estou naquela fase em que o peso de um avião é retirado das suas costas. Sensação de missão cumprida, de final de guerra, de campeonato, em que o capitão do time, depois de muita luta, levanta a taça de campeão e dá aquele grito de realização plena.
Agora é arrumar as malas para a volta para casa. Despedir de São Paulo, cidade incrível, que, de fato, representa o primeiro mundo brasileiro. Vambora? hahaha... Iupiiii!



Viva La Vida

Bjo, bjo, bjo.


 

domingo, 23 de setembro de 2012

Quando Deus aparece

Tenho muitos amigos que acreditam em Deus. Um deles, que é como um irmão para mim, comentou no facebook sobre um recital que estava assistindo. Tomando pela comoção do momento, ele finalizou a postagem assim: "Nessas horas Deus aparece".
Fiquei com essa frase na cabeça. De fato, Deus não está em promoção, se exibindo por aí. Ele escolhe, dentro do mais rigoroso critério, os momentos de aparecer pra gente. Não sendo visível aos olhos, ele dá preferência à sensibilidade como via de acesso a nós. Não sou católica praticante e ritualística... não vou à missa aos domingos nem faço novenas. Já houve um tempo em que eu fazia essas coisas com mais devoção, mas hoje Deus se expressa de outras formas.
Para mim, ele aparece através da música e nem precisa ser uma obra prima de Chico Buarque. Pode ser uma música popular mesmo, pode ser algo que toque no rádio, mas que me chega no momento exato em que preciso estar reconciliada comigo mesma. De forma inesperada, a música me transcende e me aproxima do divino.
Deus me aparece nos livros, em parágrafos que não acredito que possam ter sido escritos por um ser mundano: foram escritos por um ser mais que humano.
Deus me aparece (e muito) quando estou em frente ao mar. Tivemos um papo longo há mais ou menos 1 ano e meio, quando havia somente as ondas entre mim e ele. A gente se entende em meio ao azul, que seria a cor de Deus, se Ele tivesse uma.
Deus aparece num abraço apertado em que é possível se escutar os batimentos cardíacos.
Nesse exato momento, escuto "My Sweet Lord" e posso assegurar: a letra é um animado bate-papo com Ele, ritmado pelo rock'n'roll. Aleluia.
Deus aparece quando choro, quando a fragilidade é tanta que parece que não vou conseguir me reerguer. Aparece quando alguém me liga e eu tenho impressão de que essa pessoa está mais perto de mim do que o vizinho da frente. Aparece nas lambidinhas de Cleo e Alvin e , na voz tranquila do Petrilli, quando escuto uma criança chorar ao nascer. Deus aparece nas vitaminas que a minha mãe faz para eu ganhar peso e uma mãe é um atestado da presença desse cara.
E quando eu O chamo de cara e Ele não se aborrece... aí, sim, tenho certeza de que ele está comigo mesmo.

My Sweet Lord! Aleluia!

Bjo, bjo, bjo.

sábado, 22 de setembro de 2012

Neam?

"Afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo, já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer muitos rodeios para chegar a qualquer parte."
Guimarães Rosa.



Ele, sempre ele!

Bjo, bjo, bjo.

C'est fini, radio!

Ok, estou super em falta com vocês. Assumo o erro, mas estou aqui para começar a reparar estas faltas... hahaha! Andei muito sumida e, nesse intervalo de tempo, muitas coisas aconteceram. Contarei tudo, porém aos poucos.
Bom, dando continuidade à história, o post de hoje será todo trabalhado para contar o final da radioterapia. Como havia falado anteriormente, faria 25 sessões de radio na coluna. Dito e feito.  
Segui todas aquelas recomendações que a equipe médica te dá: evitar sol e consumo de alimentos ácidos, hidratar a pele, usar as loções indicadas, tomar os remedinhos salvadores no momento certo e por aí vai... No entanto, quando procuramos relatos de pessoas que já passaram por essa experiência, nem sempre encontramos depoimentos, digamos, encorajadores e, nessa hora, CUIDADO!  
Cada situação é uma situação. É clichê, mas não deixa de ser verdade. No meu caso, por exemplo, li depoimentos de pessoas que tiveram queimaduras de segundo grau na pele, disfagias violentas a ponto de ser necessário uso de sonda nasogástrica, fobia por causa da máscara, náuseas, vômitos, fraqueza e até interrupção do tratamento devido a efeitos colaterais.
Passei pelos primeiros dias de radioterapia tranquilamente. Sem sentir absolutamente nada. Um sonho, perto do que foi a quimioterapia... Depois da décima aplicação, momento divisor de águas, comecei a sentir um pouco de dor para engolir, às vezes náusea e, mais para o final, após a dor na garganta ter sido controlada, veio o cansaço. Uma fadiga sem explicação, que te tira a vontade de levantar da cama e fazer outras coisas legais. No entanto, isso foi mais para o final... final mesmo, tipo última semana e bastou a radio acabar para tudo acabar também. Maravilha!
Tirando esses "acidentes" de percusso, o resto foi bem tranquilo. Usei um hidratante excelente, de uma marca de produtos oncológicos chamada Pielsana, à base de vitaminas A e E, de 3 a 4 vezes por dia, religiosamente todos os dias, o que ajudou minha pele a nem ficar vermelha. Assim que as aplicações chegaram ao fim e os campos foram retirados, ninguém sabia onde tinha sido irradiado. Dei prioridade a alimentos bem saudáveis, evitei exposição solar, concentrei na radio. No mais, durante essa etapa, dá para fazer outras atividades: viajar no final de semana, passear, se divertir, dormir... porque a radioterapia te toma pouco tempo comparando com outros procedimentos. E, além disso, pelo menos para mim, foi mais tranquila que a quimio...
Fiz 5 semanas exatas de radioterapia, não perdi nenhuma sessão, não tive intercorrências graves, não precisei de tranfusões  nem de medicamentos para dores intensas ou outros problemas. Cada aplicação durava em torno de 40 minutos. Pode parecer muito tempo, mas, na verdade, acertar os campos demanda cuidados especiais, técnica apurada, bem-estar do paciente... então a radiação, em si, é rápida, durando em torno de 2 ou 3 minutos.
Assim, recebi alta, com sensação de dever cumprido, com direito à carta oficial de libertação e tudo, assinada a próprio punho por Chen, em papel timbrado do Albert Einstein. Enfim, era oficial... ahahaha! Dia 04 de Agosto... para entrar para a história!
E depois de todo esse terremoto em minha vida, tudo indicava que as coisas voltariam ao normal em breve... volta para Montes Claros, para a faculdade, para tudo que eu tinha deixado para trás...
 
 
Que assim seja!
 
Bjo, bjo, bjo.