domingo, 4 de março de 2012

No meio do caminho não tinha uma pedra...

Fevereiro de 2011. O ano começava feliz para mim... Estava iniciando o sétimo período de medicina, aquele que seria o divisor de águas na minha carreira acadêmica. Havia uma expectativa imensa em torno desse semestre, não só porque seria o último de tutorias, como também por seu grau de importância científica. Enfim, chegar nesse ponto era, paradoxalmente, motivo de alegria e tensão. 
Era uma manhã de sexta-feira, como outra qualquer. Acordei cedo e comecei a me preparar para a aula. Tomei banho, desci para o café, escolhi a roupa... tudo absolutamente normal. No dia anterior, tive uma rotina que não fugiu ao convencional. Nada que viesse a justificar o calvário que me esperava nas próximas horas... Tudo começou no momento sagrado de arrumar o cabelo, quando senti uma "fisgadinha" nas costas, na altura dos rins. À princípio, não dei importância e continuei, sem nem imaginar o que poderia ser. Tornei a sentir a mesma dor poucos segundos depois, porém um pouco mais forte. Liguei? Não. Só levei a mão nas costas e a dor passou num passe de mágica, permitindo-me prosseguir... Mas aí se passaram uns 5 minutos e, de repente, veio a pior dor que já senti na vida. Apareceu assim, sem avisar, sem mandar recado, inesperadamente. Uma dor que já começou na sua intensidade máxima, irradiando para todos os lados, a ponto de prejudicar até a respiração. Não sei qualificar até hoje se era tipo cólica, pontada, fincada, queimação ou qualquer outra coisa. Só sei que foi tão forte que, no mesmo instante, caí no chão e rolei de dor... era insuportável. Jamais havia sentido algo parecido. Não conseguia nem me movimentar e comecei a gritar pedindo socorro... gritar, chorar, desesperar... Minha irmã logo chegou, depois veio meu pai... e os dois ficaram me olhando, boquiabertos, tentando entender o que tinha acontecido em questão de minutos. E eu ali no chão, contorcendo de dor, também atônita diante de um fato nunca imaginado. O desespero era visível nos olhos deles. Ninguém sabia o que fazer direito naquele momento, mas a situação era tão dramática que o primeiro instinto do meu pai foi me pegar no colo e pelo menos me colocar numa cama. No entanto, todas as tentativas de me levantar do chão foram falidas diante da dor que aumentava (era possível?) com o mínimo movimento. Contudo, alguma coisa tinha que ser feita porque eu gritava loucamente de dor. Por pelo menos uma hora, fiquei ali, no piso frio, gelado pelas gotas de suor que pingavam do meu corpo, numa tradução indireta da dor que estava sentindo. Depois de várias tentativas, meu pai conseguiu me colocar na cama, mas a dor não cedia por nada. Minha mãe foi chamada no trabalho e chegou em casa mais desesperada que todos nós juntos. A essa altura, minha aula já tinha ido embora e então comecei a tomar um remédio atrás do outro. Iniciando pelos mais fracos, sem sucesso. Todavia, o aumento de doses ou potência dos medicamentos não surtiam nenhum efeito. O tempo foi passando... 1, 2, 3, 4, 5 horas e nada. Tudo que estava a nosso alcance já tinha sido feito. Comecei a sentir náusea, fazer vômito, ver tudo girar na minha frente... Meu irmão chegou e fez medicação venosa, mas isso também não resolveu o problema. Já era desesperadora a situação e a única alternativa era me levar para o hospital. Mas como? Era impossível eu me mover na cama, que dirá levantar... Depois de quase 12 horas de dor e angústia, eu estava no hospital, com a ajuda de um serviço móvel de urgência, recebendo morfina, fazendo exame, pensando que se tratava de um cálculo renal. Passei um tempo em observação e depois fui para casa, sem dor, mas na segunda-feira eu faria uma tomografia computadorizada para melhor avaliação dos rins...


No meio do caminho não tinha uma pedra. Não tinha uma pedra no meio do caminho...
P.S.: Para não ficar cansativo, vou dividir essa parte da história em alguns capítulos. Continuo a contar no próximo post.
Bjo, bjo, bjo.

Um comentário: