sexta-feira, 16 de março de 2012

MTX fazendo história

Depois de ter tido uma noite inesquecível, em que meus rins trabalharam como nunca, fui tomar café para depois ir ao GRAACC. Mas, antes mesmo que eu tivesse tempo para comer alguma coisa, comecei a sentir as mãos ficarem dormentes, formigando. Muito estranho. De início, a sensação ia até os punhos e eu não sentia direito os dedos das mãos, por mais que tentasse. Percebi que aquilo progrediria rápido, falei com meu pai e minha mãe e fomos correndo para o hospital, sem café, sem lenço, sem documento.
No caminho, a sensação foi se estendendo para os braços, pés, pernas, abdomen, cabeça... numa velocidade impressionante. Tudo foi ficando muito tenso no caminho e, quando cheguei na porta do GRAACC, foi difícil até descer do carro porque eu estava, praticamente, toda adormecida e paralisada. Tinham me falado que MTX dava muita mucosite, mas ninguém me disse que também poderia causar uma parestesia enlouquecedora... não conseguia pronunciar uma palavra, não conseguia dizer o que estava sentindo, não conseguia fazer praticamente nada. Minhas mãos começaram a entortar e os dedos foram ficando em garra, de tal modo que, por mais que tentassem, ninguém conseguia movimentá-los.  Além da parestesia, comecei a sentir dor também... que parecia muito uma cãibra. E aí o desespero foi geral... tanto meu quanto de quem estava por perto. Porque começou a doer e muuuuito.
Minha mãe ficou totalmente desesperada... sem saber o que fazer. Lembro do pavor nos olhos dela. Sinceramente, nem sei como cheguei ao segundo andar do hospital, na quimioteca. No entanto, lembro de um monte de gente me socorrendo... procurando veia para coletar exame, ligando soro, chamando um médico com urgência. Enquanto os exames não ficaram prontos, fui recebendo soro bicarbonatado porque a primeira suspeita era de que eu estava intoxicada por MTX. Intoxicada, gente... Depois da alergia, ainda veio mais essa.
Os resultados saíram e o nível sérico da droga realmente estava altíssimo, muito embora dentro dos valores esperados para as primeiras 24 horas pós-QT. Uréia, creatinina, cálcio... tudo dentro dos valores desejáveis para a situação. Mas o potássio estava baixo... meu rim, de fato, trabalhou intensamente durante a noite... a prova encontrava-se aí. E quem entende do assunto sabe que pequenas variações nos níveis desse íon provoca um desastre, dentro dos quais um dos mais graves é uma arritmia cardíaca induzia por hipocalemia.
Além disso, ainda tinha a alergia, que começava a dar sinais de que viria com tudo nos próximos minutos... Mas essa história também teve seu final feliz. Benadryl, Hidrocortizona, potássio e soro deram conta do recado. No final do dia já estava tudo bem: sem parestesias, sem dor, sem alergia.
As próximas 72 horas foram regadas com muita, mas muitaaa água, acompanhada de ácido fólico de horário, bem como daquelas já conhecidas medidas (pH... bicarbonato etc...). E, a cada dia que se passava, meu nível sérico de MTX baixava mais e mais... até que eu saí do controle (momento de alegria para quem não aguentava mais tanto líquido)... A concentração da droga no quarto dia estava abaixo de 0,2 molar e, enfim, eu tinha sido alforriada.



Diante disso tudo, pensei que meu primeiro capítulo da saga MTX tinha acabado. Sonha, Alice... O pior ainda estava por vir...

Bjo, bjo, bjo.

8 comentários:

  1. Rena, cada relato seu é prova da sua coragem e da sua capacidade de superar cada obstáculo que se colocar em seu caminho. Fico feliz ao ver, em cada foto, um sorriso estampado em seu rosto cheio de determinação! Saudades! O seu blog está cada dia mais lindo! Beijos

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    1. Ester querida... Toda vez que olho para minha torre linda, fico agradecida por ter conhecido vc. Não só por causa dos presentes da Europa, mas por vc ser tão especial, ser tão humana.Obrigada por tudo... Saudade sempre!
      Bjoooos.

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  2. É de impressionar sua garra,... A cada novo relato, vc demonstra sua força.... Me orgulho em saber que seres humanos como vc são reais! Exemplo de verdade! Estamos daqui torcendo, vibrando e emocionando com você! Beijos

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    1. Obrigada pelo carinho, Lud... fiquei lisonjeada com seu comentário! Bjooos.

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  3. Caramba Renatinha eu também tive uma reação alérgica que foi horrivel, eu não controlava o movimentos da lingua e quase morri sufocada, foi alergia ao Plasil que eu precisei tomar na veia depois de uma quimio porque estava com muito enjoo... Parecia seu relato, todo mundo correndo, minha mãe em pânico, mas no final tudo deu certo!!!! Boa sorte e que as próximas sejam mas tranquilas.

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    1. Pois é, Thati... é tenso ter alergia dos medicamentos que nos ajudam... Mas superamos! hehehehe... Boa sorte para vc tb... para nós, para todos nós que estamos nessa maré alta!
      Bjoooos.

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  4. É, realmente é complicado... não fosse só o problema principal, ainda há a variância genética de cada indivíduo... por isso não acredito numa cura definitiva para o câncer, porque cada indívíduo é único e o prognóstico é diferenciado, até na medicação... mas vc está em excelentes mãos, tenho certeza de que tem essa consciência. Continuo seguindo a novela. Tá melhor que Dr. House. rs. Beijo.

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  5. Melhor que Dr. House? kkkkk... só vc mesmo, Helcio! Obrigada, mais uma vez, pelo carinho. Bjão.

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